O governo Bolsonaro está propondo tirar dinheiro da educação pública para ajudar a financiar o Renda Cidadã. Isso significa reduzir os já insuficientes recursos voltados à educação de crianças e adolescentes pobres e à alfabetização de jovens e adultos para garantir que famílias pobres possam ter alguma qualidade de vida após a pandemia.
Leonardo Sakamoto
Revisão do teto de gastos e taxação de super-ricos
O governo federal trata o Brasil como se nele habitassem apenas os fodidos e os remendados e, portanto, a redistribuição de renda deve partir, principalmente, de um grupo para o outro.
Diante disso, os super-ricos (atenção: não se trata de você que paga em 24 vezes a prestação do Renegade e vai para a Disney uma vez por ano, fazendo as contas para saber se dá para comprar o chapéu do Mickey) não são vistos como contribuintes, mas como deuses e, portanto, sujeitos a pagar menos imposto que a classe média.
Paulo Guedes até defende taxar dividendos recebidos de grandes empresas e reduzir as deduções no Imposto de Renda, mas isso ainda seria pouco diante da nossa pornográfica concentração de riqueza.
Dá para discutir tributação das altas rendas e maior progressividade do Imposto de Renda de Pessoa Física, Imposto sobre Grandes Fortunas, aumentar alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de setores econômicos com alta rentabilidade, criar a Contribuição Social sobre Altas Rendas, alterar as regras do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), ou seja, heranças, acabar com a dedução dos juros sobre o capital próprio, entre outras.
O Brasil precisa de uma Reforma Tributária que faça o contrário do que Bolsonaro quer fazer, tirando dos super-ricos para repassar aos pobres.
Mas, antes, o Brasil precisa ter coragem e revisar a regra do teto dos gastos. É inconcebível que os limites valham para programas que beneficiem os mais pobres e sejam facilmente “flexibilizados” para beneficiar carreiras de Estado que ganhem muito.
A regra já ia explodir mais cedo ou mais tarde por inviabilizar investimentos públicos em um país com educação e saúde insuficientes para as necessidades da população. Afinal, aqui não é a Noruega ou a Suécia, que precisam apenas administrar a situação.
Mas a pandemia acelerou o processo de erosão do teto. Ele tem que ser revisto para possibilitar que o país consiga se reerguer após a covid, o que inclui um programa mais parrudo de transferência de renda, garantindo alguma qualidade de vida às famílias e fazendo a economia girar. Sem que, para isso, a educação e as aposentadorias sejam pilhadas.
Há um mantra, que ecoa no tilintar dos cubos de gelo do uísque dos corredores palacianos à caipirinha da beira das piscinas no Lago Paranoá, de que pecado mortal não é deixar milhões de pessoas passando necessidade após uma pandemia, mas aumentar imposto sobre os muito, muito ricos. Por que vão fugir com seu dinheiro? Bobagem. Porque são nossos deuses, porque são os donos do país.
Após a divulgação da proposta de tungar a educação e os precatórios (ou seja, calote público), houve uma avalanche de críticas. Diante delas, Bolsonaro disse que “a imprensa, que tanto apoiou o fique em casa, agora não apresenta opções de como atender a esses milhões de desassistidos”.
Apesar de ter apresentado propostas de muitos especialistas trazendo soluções, o que ele perceberia caso tivesse o hábito da leitura, não é papel de jornalistas apontarem soluções, mas dele.
Agora, se acha a tarefa muito difícil, pode sempre renunciar.
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